O Sonho
Traumdeutung | Despertar

O umbigo do sonho não é um inefável

Por Yves Vanderveken

Foi precisamente no mesmo movimento em que ele se dedicava a formalizar as leis da interpretação dos sonhos que Jacques Lacan destacou, do texto freudiano, a noção de umbigo do sonho.

Ninguém, depois de Freud, fez isso como ele. A um só tempo, desenvolver logicamente, no campo da fala e da linguagem, as leis da interpretação em psicanálise e, no mesmo gesto, extrair, para colocá-lo em seu centro, um ponto de tropeço na interpretação, um ininterpretável.

Para Lacan, isso quer dizer que a dimensão de umbigo do sonho se enoda imediatamente à dimensão mesma da interpretação. Um não vai sem a outra.

Deve-se deduzir disso que o umbigo do sonho não é um inefável.

Ele não é um ponto opaco prévio no sentido. Seguir essa via equivaleria muito rapidamente a ir ao encontro dos insensíveis à hipótese freudiana, segundo a qual o sonho é uma produção do inconsciente que mascara uma significação a fim de que ela possa ser dita a despeito da censura.

O umbigo do sonho não é um já estava ali, sobre o qual, de saída, a interpretação tropeçaria. Ele não está lá, desde o início, por si só.

O umbigo do sonho é um produto do trabalho de interpretação do sonho. Um resto. É o ponto de convergência do trabalho interpretativo. Ele pode ser deduzido do processo de interpretação uma vez que este é levado a seu termo - até "se fartar".

Portanto, longe de ser um inefável, ele é, antes, o ponto de concentração das significações resultantes das sucessivas e múltiplas interpretações da formação do inconsciente que é o sonho. O ponto em que a dimensão da interpretação levada a seu termo se anula e não demanda mais, no que concerne à produção de um sentido outro. O umbigo do sonho condensa então as significações, na medida em que elas se detêm em um ponto que se isola. Um S1 que não remete mais a nenhum S2.

O umbigo como um ininterpretável é, portanto, exatamente o oposto de um inefável. Ele é um ponto resultante do movimento da associação livre, um ponto de conclusão; não um recuo diante do desvio necessário através do campo da fala e da suposição de saber que aí se possa empreender.

No fundo, é o que se isola do e através do trabalho interpretativo como aquilo no qual se tropeça e se esbarra de mais real.

Somente a via do trabalho associativo está, desde então, em condições de abrir, para quem o quiser, a possibilidade de um saber sobre onde estou em minha relação com desejo e com o gozo. Nem todo mundo gosta disso. Sem dúvida, é preciso ter reconhecido, desde cedo, um encontro subjetivo com uma falha no saber sobre essa questão. E ter vontade de debruçar-se sobre ela.

Tradução: Vera Avellar Ribeiro